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O Fusquinha

Quando eu era uma adolescente sonhadora queria ter um fusquinha cor-de-rosa. Ele seria lindo, cheio de ursinhos de pelúcia no banco de trás. Eu seria uma espécie de Penélope Charmosa, rsrsrs.

O sonho não se tornou realidade, que peninha.

 Nesta mesma época gostava de escrever em diários, relatando as aventuras e peripécias de meu dia. Então, daí a ideia de um blog com este título. Realizo o sonho do fusquinha, sqn, rsrsrs e continuo a escrever sobre minhas aventuras e peripécias. Faço-o de uma forma poética e, por vezes, romântica. E, às vezes, nem poética, nem romântica, rsrsrs. Este é um blog bem simples. Tem um pouco de tudo o que me faz feliz e também do que me faz chorar.

Espero que minhas palavras, de alguma forma, toquem o seu coração.

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É Bem Assim

Se você acha que as pessoas estão rindo de você é porque você se considera risível. Se você imagina que estão falando mal é porque você se acha criticável.

A interpretação que fazemos do olhar do outro sobre nós é baseada na percepção que temos de nós mesmos. Antes de querer mudar a opinião dos outros a seu respeito, mude a forma como você se vê.

Melancólico

A Mulher na Janela

  • Foto do escritor: Sandy Matos
    Sandy Matos
  • 16 de jan. de 2019
  • 4 min de leitura

Mal cantou o galo na pradaria e acordou D. Fulana para os labores do dia. Feitas as preces, às pressas, como era de costume e pôs-se à janela para esperar a vizinha.

D. Beltrana, àquela hora, acordada já estava, e depois das ladainhas, acorreu para a sacada, onde a colega de prosa por ela já esperava.

_ E aí, D. Fulana, teve noite mal dormida como a minha? Pois sofrendo de minhas câimbras, passo as horas em agonia.

_Pois, então, D. Beltrana, não é que o gato da vizinha não me deixou pegar no sono? E por causa da gritaria, não consegui pregar o olho. Mas, me diga, D. Beltrana, você viu a Joana, a vizinha bonitona, que horas chegou da rua?

_ Não vi o que, D. Fulana, lá aquilo eram horas de chegar em casa? Mulher de respeito andando nas praças é muito suspeito, acho que aí tem erro.

_ Vou fazer orações em prol de sua alma sombria, pois mulher que anda desse jeito deve estar atrás de companhia.

E depois de dois suspiros indignados, passaram a outro assunto urgente, pois não faltava gente para ser alvo de seus confábulos.

_ E, então, D.Fulana, soube da última do seu Zé? Entrou na casa de Maria e já nem era dia, o que será que foi fazer?

_ Ah, D. Beltrana, se fala daquela gaiata, então deve ser pecado, algo do agrado do lá ele, pois aquela sirigaita, dizem que é mal amada, já botou os olhos nele.

_Minha nossa, Cruz-credo. Vou rezar dois Pai-Nossos em prol de sua alma vazia.

_ Oh! mundo. Oh!mundo, hem, D. Beltrana , já soube do Raimundo? Parece que caiu na bebedeira, então aguarde a baboseira, pois vizinho que bebe não dá sossego.

_Minha nossa D. Fulana, como soube desse babado? Viu ele tomando um trago no balcão da padaria? Ou foi no Bar do seu Farias, onde só frequenta malandro?

_ Nada disso, D. Beltrana, o negócio é muito sério. Ontem chegou trôpego da rua, errando as passadas curtas, e num vexame terrível nem enxergou a fechadura.

_ Minha, nossa, Cruz-credo, isso é negócio sério. Que fazer, D. Fulana? A vizinhança é uma vergonha.

_ Ainda bem, D. Beltrana, que não nos misturamos com ela e daqui dessa janela, ficamos longe dessa afronta.

_ E como somos piedosas, não é D. Fulana, fazemos nossas orações e oferecemos libações em prol de suas almas perdidas.

E era assim todos os dias, num encontro de janelas, lá ficavam elas a debater o vida dos vizinhos. Nunca se misturavam com as gentalhas, pois entre elas não se achava quem era digno do seu convívio

Mas num dia muito triste, D. Fulana na janela, esperou o disse-me-disse, mas não apareceu D. Beltrana. Soube, então, que a vizinha, numa cãimbra doentia, teve agravado o mal. E acudindo à sua casa, em passadas muito largas foi chorar no funeral.

E lá estava toda a vizinhança a lhe oferecer condolências, pois sabiam da amizade que nutria com D. Beltrana. E em conversas sussurradas, e mãos sendo apertadas, no meio daquela gente se encontrou D. Fulana.

E olhando de soslaio, viu ali o seu Zé a conversar com a Maria e esta muito meiga, seu sorriso oferecia. Soube então, D. Fulana, que seu Zé tinha a fama de acudir os vizinhos em suas agonias. E num dia, depois do Sol já posto, ajudou D. Maria correndo em seu socorro, pois estourando o cano da pia, quase chorou de desgosto. Mas, seu Zé sempre disposto foi em seu auxílio e prestando seus serviços conseguiu salvar o dia. E, envergonhada ficou D. Fulana.

E depois de chás servidos, cafezinhos e biscoitos, apareceu o Raimundo, e num abraço afoito consolou D. Fulana. E para amenizar o clima contou de sua desdita quando num dia perdeu as lentes, e, sem enxergar o batente, quase deu com a cara na porta. Mas, agora aliviado, confessou à D. Fulana que a miopia o atrapalhava e sem o auxílio das lentes quase nada enxergava. E, envergonhada ficou D. Fulana.

E já era chegada a hora de partir ao cemitério e levar D. Beltrana ao seu descanso quase eterno. E no caminho, atrasada, vinha toda apressada a Joana ao seu encontro. E ao chegar em D. Fulana, lhe ofereceu um afago e explicando seu atraso contou-lhe de seu ofício. Trabalhava até tarde, fazendo hora extra, pois seu marido covarde não pagava nem a cesta que ajudaria a criar os três filhos. E, envergonhada ficou D. Fulana.

E caminhando atrás do féretro ía lá D. Fulana, meditando que neste gesto de muito ela se despedia. E enterrada, D. Beltrana, debaixo de sete palmos, nesse recinto muito calmo, de nada mais saberia. E encontrando ouvidos surdos foi-se , então, D. Fulana a chorar pelos seus lutos. Meditou sua desdita e uma lágrima aflita brotou de seu coração. E numa última despedida, deu adeus à sua amiga e tomou uma decisão.

Mal o galo cantou na pradaria e acordou D. Fulana para os labores do dia. E feitas as preces, dessa vez sem pressa, acudiu à janela e com água na panela foi regar as margaridas.



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