Maria, A Mulher que Foi Quebrada
- Sandy Matos
- 31 de jan. de 2019
- 3 min de leitura
Maria era uma uma mulher inteira. Inteira de corpo. Inteira de alma.
As engrenagens de seu coração estavam em perfeito funcionamento.
E sem nenhum lamento, ela respirava.
Maria era contente, sorridente. Acreditava na vida, confiava em tudo.
E os planos do mundo, Maria sonhava. Maria tinha olhos brilhantes, sorriso exuberante. Sua graça cativante não negava a quem pedia.
Ah! Maria, Maria. Completa em sua feitura, inteira em sua essência, ela viu passar seus dias.
Um dia Maria encantou. Iluminou os olhos de um que a olhou, e este cheio de desejo, fez-lhe um ensejo e levou Maria a viver com ele. E, agora, sendo dele, Maria se entregou.
Um dia Maria acordou e percebeu que faltava algo, um pequeno estrago fora feito em sua feitura. Que feiura, Maria quase chorou. Mas, era só um arranhão, coisa que se escondia com um pedaço de algodão.
Mais um dia e Maria acordou. Um pedaço maior se soltara e um buraco ficara onde antes era seu coração.
Mas, Maria remendava, dava um jeito e consertava e se mantinha, ainda de pé. Mas, Maria não percebeu que agora ela mancava, sua postura se curvara e seu sorriso perdeu a fé.
O brilho que antes havia, que os seus olhos coloria há muito se apagara, e Maria sem perceber viu o que não queria ver: havia buracos em sua alma.

Agora Maria era torta. Poucos a reconheciam. E trancando sua porta, envergonhada da desdita, Maria não mais aparecia.
E aquele que se encantou, que um dia a Maria levou era todo sorridente, dono de muitas certezas, de conversa envolvente.
Ah! Maria. Vê se percebe o que te falta. Há buracos em sua alma. E em pedaços tu te quebras. Mas, Maria iludida, pensando que era sua missão, deixou-se quebrar inteira e esmigalhada ela viu seus pedaços caírem ao chão. Um dia olhou- se no espelho e assustada sentiu medo com a terrível visão! Maria não era mais ela, e chorando a morte dela espatifou-se pelo chão.
Chegando em casa, aquele que um dia a levara, encontrou a Maria quebrada, fragmentos do que um dia fora. E juntando os pedaços, varrendo todos os cacos, Maria foi jogada fora.
Ah! Maria, Maria! O que será de ti agora? Sozinha num saco escuro, ninguém lhe chora o luto, acabou-se a sua história? Hem, Maria? Ainda podes ouvir quem te chama, aí jogada na lama, nesta triste calmaria?
Ah! Mas um dia um barulho ensurdecedor ecoou naquele canto escuro. Maria se remexia, em seus cacos se revolvia e uma nova Maria nascia. Pedaço por pedaço encontrou outros encaixes. Fragmento por fragmento regenerou-se em outras partes. E há quem ache, há quem informe que Maria foi restaurada de volta aos padrões de fábrica. Mas numa versão melhorada. Renasceu um espírito completo, com alma de aço, coração de ferro. E quem visse Maria a todos dizia que era uma outra mulher. Seu brilho irradia, em dia claro, em noite sombria e seu sorriso é gelo ou fogo, depende da ousadia dos que se lhes pede a fé.
Ah! Maria, Maria. Voltou como a Fênix volta das cinzas. Purificada de alma. Renovada de corpo. E agora absortos todos olham para ela. Voltou inteira, voltou completa. Voltou de armadura, de arco e flecha. Agora Maria não quebra. Mas, Maria entrega sua vida e sua essência Àquele que em toda excelência sempre foi o Dono dela.
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